13 de março de 2013

última noite

Dá-me esse copo de wisky. Nas pedras de gelo vejo o afogar das dores porque me arrepio a sentir o frio na língua. Marcas-me de aventuras por esse sorriso tão esbelto ainda me consumir as objectivas das visitas nocturas que te faço. Sobre os meus dedos compridos e mãos vazias vejo-te a fugir e entro em pânico. No entanto, não me permito sair deste canto. Deste quarto de quatro paredes e quadros apenas feitos de vidro. Trago-te para aqui. Desejas-me tirar-me o mais perfeito juízo a qualquer custo. Quer molda-lo de desejos teus. De memórias que nos expandiram nos lençóis  De silêncios meus enquanto me arrepiavas. E, enquanto detectavas os meus sensores de movimento. Do que tenho mais pavor são as lamúrias dos tempos de lamentar que teimam em chegar. Do que me lamento é baixar as armas. Para ti, deixei de ser um espírito soberbo e então passei a ser um fantasma medíocre. Sem poderes, sem manhas, sem truques. E, tu, é de rir para caralho esta situação tornaste-me na minha maior fénix do céu negro. No meu bicho de sete cabeças que cospe fogo do qual não pressinto medo. Pressinto presenças poderosas que me recordo outrora ter alcançado. Daqui, desta casa assombrada, não tenciono sair. No entanto, também não fecharei as portas. Feitiços e cigarros estão em cima da mesa para quem quiser usar e abusar. Talvez o meu melhor feitiço tenhas sido tu, meu caro, mas te tenha embebecido tarde. Me tenhas matado mas ainda assim deambulo pelas luzes das divisões cá da casa. Hum, beijo na tua face pálida e beijo nos lábios secos. Não queiras mais que nos vais matar aos dois e ver-te morrer é amor negro e o nosso pseudo-amor nunca nos fez mal.

2 comentários:

Os homens não são todos iguais disse...

Muito sentimento, traduzido numa boa escrita. Gostei muito vou passar aqui mais vezes ;)

http://euacreditoproject.blogspot.pt/

R disse...

Este é o meu texto preferido deste teu sublime espólio lavrado em texto. Inspiras com a pungência, com as centelhas lascivas, com a ironia, com o desplante corrosivo, com a imensa paixão pela (boa) literatura.

Beijo...