4 de fevereiro de 2013

Dizem que estamos mortos

Já nem me recordo de tempos em cuidava de alguém sem ter medo que me cortasses as asas. Agora, não cuido de ninguém, nem de mim mesma. Não me passa pela cabeça amparar as quedas de alguém, cuidar dos joelhos esfolados de quem tombou logo por cima dos seus maiores sonhos e se esqueceu das virtudes. Não me recordo pois no dia em que perdi tudo deixei-me que me perdesse essa parte de sentir as pessoas sem ter medo de as sentir. Já não conto histórias de embalar a ninguém nem tão pouco me assusta morrer sozinha. Ou, então, mal acompanhada. Porque no dia em que perdi tudo perdi a vontade de conquistar e ser conquistada. Não sei onde procurar o que me falta. Nem sei se deva procurar. Nem sei o que me falta. Umas vezes, sinto-me a arder. E, outras sinto-me a desfalecer. E, umas outras vezes encontro-me com um estranho bonito na rua. Poderia dizer que me chega mas iria mentir pois falta-me qualquer coisa. Não sou mais um buraco numa parede gasta. Sou um grafitti estranho, cheio de cores que a sociedade tente a expor rótulos como o vandalismo. Sentem-se bem a viver numa cidade vazia e cinzenta e o campo são apenas montes e flores. Não sei o que me prende nem se pretendo ser prendida mas se prendessem que o fizessem com algemas de sentimentos profanos e profundos. Se assim, não for, então não sei nada de nada. Considero-me venenos e não perfumes. Porque mais vale ser um veneno desejado fatal do que um perfume doce e inocente. Escolhi ser veneno porque escolhi saber o que afinal é magoar-me. Magoar. Nunca parti corações por divertimento a não ser o meu. Cada tentativa foi um evento falhado. E, se um tiver netos vou-lhes dizer que não tenho contos para lhes contar mas que apenas o preto existe. Os nossos monstros estão dentro de nós e pior somos nós que os criamos. Que os nossos maiores bichos de sete cabeças são as nossas peles que não se renovam ou seja as memórias que tendem a ficar e a consumir. E, nunca as memórias boas... Essas dissipam-se no tempo. E, o nosso problema é pensarmos que temos tempo. 

1 comentário:

kowodzpin disse...

fd-s clau! assim até a minha voz chora quando os olhos se embebedam na alma destes textos. obrigado por isso. da-lhe pequena. :)