28 de maio de 2013

Somos um feitio de merda.

Não me recordo do timbre da tua voz. Se deambulavas pelas ruas da cidade. Se paras no fresco do campo.  Nunca me contaste histórias de embalar, saberias que nunca as queria ouvir. Ainda hoje saboreio os charros que fumávamos juntos logo pela manhã. Ou, a noite, na cozinha. Falávamos de todos os segredos e suposições. Tchilavamos sem preocupações porque afinal, naqueles tempos, sentíamos com toda a paixão o sangue do mesmo sangue. Dizias-me que era uma miúda crescida. Que mesmo que não fosse alguém na vida, seria sempre alguém para mim mesma. Porque sempre gostei do que via ao espelho pela manhã. Sempre observaste a minha rebeldia com olhos de lince. Tinha limites contigo, sabia-o bem mas a tua companhia, papy, era a melhor do Mundo. Sentia-me viva. Não existe homem nenhum capaz de te igualar. Sempre disseste que esse era o meu problema. Que no lugar de um namorado, coloquei o meu pai. No entanto, aprendes depressa que vivo bem assim. Com as escolhas que fiz. Com as recordações que tenho. E, com a vida que levei. Somos iguais. Sei disso porque nunca arrependemos de nada, porque somos sangue frio, porque não olhamos para trás, porque não admitimos que ninguém mude a nossa natureza. Somos um mau feitio de merda. 

2 comentários:

samedi disse...

seguindo!

Diana Sousa disse...

Vou acompanhar-te por aqui. Adoro.