22 de junho de 2013

Seca e pálida

Deixei as ganzas de lado por momentos. Estou aqui pura, seca e pálida. Bate uma nostalgia fodida de ti. Bate tão forte no peito que temo, pela primeira vez na minha vida, que me rebentes com as artérias. Esta casa ainda é tua. Sinto a tua presença em cada canto dela e sinto a tua ausência em cada canto teu. No fundo, recusei-me a esquecer-te. Dá-me um cigarro que esta vida é nada. Amanhã é noite de São João e sempre que existem noites especiais como esta bate uma nostalgia fodida de ti. Ensinas-te-me tudo o que sei. E, o que não sei foi porque não tive tempo de aprender contigo. Queria dar-te um beijo grande na Alma nesta noite de festa. Dizer-te, agarrada a ti, como uma criança de meses desprotegida que és tudo. Que não existe ninguém igual a ti ainda que ninguém compreenda a nossa relação. Dar-te-ia tudo o que tenho em troca da tua solidão. Não suporto saber que deambulavas sozinho nas ruas. Não suporto saber que não sei de ti quando te sei de cor. Gosto tanto de ti. Todos os dias mais um pouco como se houvesse limites para amar um pai. Como se houvesse paragens cardíacas que nos dissessem - já chega. Hoje, tudo o que poderia pedir, era uma família estável e unida ou então que tivesse um ultimo abraço teu. Só o último. Não consigo imaginar a tua morte. Não consigo aceitar que nem sequer me conseguirei despedir de ti, conceber-te a vida que sempre te quis dar. Comida e amor na mesa. Não me consigo imaginar a fazer o teu luto. É tão díficil, pai. É dificil saber que andas perto que não me consigo encontrar contigo. É dificil ver-te nos meus sonhos. 
É dificil encarar que o único apoio real que tiveste na tua vida se foi embora e que nunca mais voltou. Nunca mais respirou do teu lado. Que nunca mais. Nunca é uma palavra tão forte, jurei que nunca iria usa-la contigo, que nunca nos iria descrever. Que nunca. Daria tudo o que tenho para te sentir de novo. Para partilhar mais um mIlhão de momentos contigo, mais um milhão de sentimentos puros, secos e pálidos. Daria a minha vida para que fosses eterno. Tira-me daqui, por favor. Tira-me desta rotina que me mata todos os dias. Tira-me da mão destes humanos que não me conhecem. Tira-me as peles velhas, renova-me, conquista-me, faz tua filha de novo, só tua. Que as vezes, muitas vezes, já não sei quem sou. O que faço, a quem devo, o que amo. Daria tudo por um canto quente em que pudesse chorar nos teus ombros. Daria todos os meus sorrisos para as covas da tua face serem sempre esbeltas. Daria infinitos para te ter tornado um homem melhor para todos e não só para mim. Tenho frio, estou calma mas choro. Preciso de ti como preciso de nada. Preciso de ti. Aliás, és a unica pessoa que foi embora de quem preciso. Nunca suportei a ideia de te ter pedido e nunca a irei suportar. Irei morrer encostada as minhas lágrimas pela maior perda da minha vida. Amo-te tanto, meu velho. Bom São João. AMO-TE TANTO. 

2 comentários:

agnese disse...

está puro, está lindo.

Joo disse...

Bem avisaste que para quem tem saudades do pai não ler.