5 de março de 2013

Pai, o meu fiel súbdito.


Pássaros negros sobrevoam o céu. Nas asas levam a filha da puta da Saudade que te sinto e sinto por ti. E, só daquelas vezes que me trespassa as recordações no peito de teres abandonado o meu tecto quando só queria ainda partilhar tanto da minha inocência contigo. Não te conto os meses, nem os dias... Escolhi ignorar-te. Paixão louca de uma filha insana que um dia... Um misero dia perdeu quase tudo que uma criança poderia viver. Chorava nos teus ombros a dizer que vivia numa casa de doidos mas foda-se... Eram os meus doidos. Hoje, escolhia-vos doidos ao invés de separados. Escolhia-te doido ao invés de te teres separado de mim. Ignoro tanto a tua presença que desejo na minha rotina claustrofóbica  As Saudades que se embebedam nas memórias já tão consumidas, por si fartas de um todo que nunca foi todo ao invés foi tudo para mim. Cega-te... Não quero que vejas o quanto cresci. Agarra-te a minha imagem do Passado, aquela que conheces tão bem. Cega-te... Não quero imaginar que já não me conheces. Sou a filha que insiste em viver numa falsa realidade, eterna inocência. É que hoje sinto umas Saudades filhas das putas de ti. Fujo de tantos espiritos, de tantos jogos de copos partidos, de cartas rasgadas. Não serei mais aquilo que me ensinaste a ser. Não serei mais porque ao invés não faz mais sentido. Não tenciono ser a puta que tu dizias ser feio ser. Não tenciono deixar as ganzas que tantos anos te vi fumar. Não tenciono deixar o wisky que tantos vómitos te provocou. Nem o tabaco que tanto maços me pagaste sabendo que me faria mal mas que me sabia bem. Sabe-me bem... Tão bem saber que irei morrer com certezas de que para uma única pessoa nunca possui defeitos. E, que defeitos são as paredes do nosso Mundo contra os cornos da Inveja. Olha os pássaros negros a sobrevoarem o céu... Olha para eles, sem recados, sem céus. Sobrevoam por cima das nossas cabeças com fios suspensos para nos levarem os miolos. Corvos que sempre convidaram tempestades. As voltas que a cabra da Vida não dá. Aquelas que tive que aceitar, que tanto me doeram e me calejaram as mãos, o cérebro e a Alma ainda se supostamente a tiver. Matei-me tantas vezes por te matar, Pai. Quis-te matar pois já não consigo sentir-te vivo dentro de mim sabendo que tenho histórias de poetas sórdidas para te contar. Daquelas que irias adorar, sabes. Ah, e como tenho uma cabra de uma nostalgia de quando me chamavas princesa. Como queria eu repetir aquele dia em que partiste a cana do nariz a um otário porque me faltou ao respeito a tua frente. Como queria continuar a ser tua e tu a seres meu, Pai. Tantas vezes supliquei a estes pássaros malditos para sermos eternos e infinitos e no fundo, burra serei sempre eu porque te perdi nos atalhos. Eu que julgara conhecer-te como a palma da minha mão... Não sei onde te encontrar. Não quero imaginar que já não me conheces. 

3 comentários:

kowodzpin disse...

porra, que me vieram as lágrimas aos olhos. estou sem palavras. muita força pra ti, clau. um dia encontras a felicidade ao virar da esquina. esperança :)

Aurora disse...

Isto doeu-me bem no fundo... sê sempre forte e ama-o sempre.

mariana disse...

adoro. escreves mesmo bem.
identifico-me mesmo contigo, é tudo uma merda e temos sempre de arcar com os erros dos outros e ainda, com os nossos. entendo-te*