16 de setembro de 2013

"a minha cena é love"

As palavras negras que cuspias retirei-lhe o veneno. Já sei que para ti, aos teus olhos, não passo de um estilo mal feito. De um estilo mal comportado. Os teus passos na minha calçada nunca estiveram presentes. Dentro de paredes somos estranhas. Cá fora, tu apregoas a minha presença. Mas, onde é que a minha presença se situa quando chego a esta casa de loucos, pequena, enfadonha e cinzenta? Vou lá fora fumar um cigarro porque gosto de ver o fumo a esfumaçar por entre o ar que não me dás... Convenço as minhas entranhas viscosas que terei a capacidade de te perdoar tudo... No entanto, não sorrio quando o meu desejo é perdoar-te tudo. Esforço-me mentalmente para te entender. Os anos passaram e não consegues argumentar-te em tom baixo para que me possas ouvir. Foda-se, sou mais do que aquilo que queres ver. És um cubículo cheio de corredores e portas trancadas. Sou eu que te consumo? Não te consigo senti. Tenho cinco sentidos e não te consigo sentir! E, tu, não calculas a angustia que me envolve quando reparo que o castanho dos meus olhos é o mesmo castanho dos teus olhos. Naqueles dias em que perdia tempo a gritar-te que os bens materiais que me dás não são nada quando não existe amor. Ainda bem que posso sonhar... É que nos meus sonhos tu és a minha mãe. Já reparaste? Interecta-te. A merda do Mundo, a mais bela merda que temos, não gira à tua volta. Quero chegar a casa e poder dizer boa tarde, porque, ya é mesmo uma boa tarde. Quantas boas tardes já partilhamos? Conto-as pelos dedos e os lamentos que proferia por não me conheceres... Já lá vão. Não me conheces. Digo-te hoje, morrerei a dizê-lo com toda a força das minhas artérias. Não me conheces porque sou melhor do que alguma vez serás. Não te abandonarei porque todas as lições que me deste a mal foram aprendidas. Estão entranhadas... Percebo que entre nós não exista volta a dar, nem nós para amarrar, nem pontas para queimar... No entanto, percebe que se querias que fosse aquilo que desejas... Que tinhas que me ensina-lo a sê-lo. Cresci e nem deste conta. Hoje sou aquilo que tu não queres. Fumo picas, governo o meu Mundo sozinha, afirmo-me. Não te preocupes porque a cena que me une a ti... É love. Cavo covas profundas e enterro nessas mesmas covas toda a merda que explode vindo de ti e vem contra mim... Só quero que saibas que sou mais do que aquilo que vês. 

1 comentário:

Jun disse...

Identifico-me tanto com este teu texto.... Tudo! Eu. Vejo-me, revejo-me. E sinto-te! Não estás sozinha *
Mais uma vez, repito-me vezes sem conta, adoro a tua escrita!